terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

MINHA HISTÓRIA NA EJA


Numa manhã de sábado de 1989, fomos - eu e alguns companheiros do Pedregal/GO - a um encontro de formação no Gama/DF, promovido pelo Serviço de Paz e Justiça. Nessa época eu já era professora da SEEDF e aluna de Letras na UnB. Lá chegando, conhecemos uma jovem senhora, de olhar vivo e inquiridor, inquieta e questionadora, falando sobre a pedagogia de Paulo Freire. Nesse dia começamos a ouvir, ler e debater sua filosofia. A partir de então, apaixonei-me irremediavelmente por aquele homem meigo, barbas perfumadas e macias, mas ao mesmo tempo firme na defesa incansável de suas idéias sobre a educação que liberta. Essa mulher era a professora Maria Luiza Pereira, a quem quero agradecer publicamente por ter me guiado nos primeiros passos rumo à alfabetização de jovens e adultos com o método Paulo Freire. Agradeço também a todos os companheiros do Pedregal: Luiz, Tone, Erlando, Márcia, Dedé, Da Guia, Cláudia, entre outros. Agradeço também ao Francisco Gois, ao Perci, que nos deram todo o apoio possível no Decanato de Extensão da UnB, no Novo Gama. Porque, se hoje estou aqui, lançando um livro para a EJA, eles todos contribuíram direta ou indiretamente para isso.
 Bem, 14 anos depois daquela manhã de sábado, voltei à UnB para fazer Mestrado em Educação e (vejam a minha surpresa!) ao iniciar as leituras do curso comecei a perceber que muitas das ideias da Sociolinguística eu já conhecia, só que lendo os livros do Freire. Percebi, então que ele era, de certa forma, sociolinguista e os sociolinguistas eram freireanos, mesmo sem o saberem. Então, este livro que lançamos hoje tentou unir os dois. Não sei se fui feliz nesta idéia. Penso que os leitores poderão avaliar melhor e fazer suas considerações. Finalmente, quero fazer um agradecimento especial à professora Stella Maris Bortoni-Ricardo que tornou possível, para mim, a educação como prática da liberdade, ao acreditar que eu seria capaz de, a partir da experiência e do estudo, produzir um livro. Muito obrigada! E agora vamos ao livro.

(Texto para o lançamento, na UnB, do livro Educação de Jovens e Adultos, Editora Parábola, 2008.)

Maria do Rosário do N. R. Alves -24/06-2008, Auditório Dois Candangos,FE/UnB

quinta-feira, 23 de junho de 2016

CONVITE


DENÚNCIA

O ribeirão Santa Maria/DF corre risco de morrer!

Destruição do Ribeirão Santa Maria em razão da construção do Residencial Nascente Ribeirão afetará o abastecimento de água e agravará ainda mais a qualidade de vida das populações de Santa Maria, Novo Gama e Valparaíso de Goiás.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Apoio dos Movimentos Sociais/Populares e Grupos afins à greve dos professores e professoras do DF

MOÇÃO DE APOIO

As organizações e entidades do movimento popular abaixo assinadas vêm a público manifestar total apoio e solidariedade aos/às professores/professoras da Secretaria de Educação do Distrito Federal que estão em greve desde o dia 15 de outubro último.
Consideramos inadmissível a postura do Governo do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, que, ao ignorar o diálogo com os/as professores/professoras em greve, só posterga o fim do movimento e coloca em risco a tranquilidade do encerramento do ano letivo escolar de 2015. Ainda mais inaceitável é a truculenta e violenta ação deste governo, por meio da Polícia Militar, em agressões e prisões de professores e professoras no exercício do seu livre direito à manifestação. 
É sabido que desde o início do ano os/as professores/professoras vêm sofrendo com as precárias condições de trabalho, com as indefinições pedagógicas, com a falta de repasses dos recursos nas escolas e as irregularidades nos pagamentos.
Sob o pretexto da falta de recursos para pagar a última parcela do reajuste escalonado do salário dos profissionais e do suposto rombo financeiro deixado pelo governo anterior, o governador recusa-se a honrar os compromissos assumidos com os docentes pelo Governo do Distrito Federal. Vale lembrar que, apesar do questionamento pelo Ministério Público do DF junto ao Tribunal de Justiça sobre a legalidade do citado reajuste, aquela Corte, por 17 X 0, julgou que não há ilegalidade nenhuma no plano de cargos e salários dos professores e, portanto, cabe ao GDF cumprir a lei.
Ainda sobre a alardeada crise financeira do GDF, em entrevista ao jornal "Metro", questionado sobre a análise das contas do GDF, o presidente do Sindicato dos Auditores Fiscais do DF afirmou que mesmo a categoria que representa - profissionais formados para analisar contas públicas - estava incapacitada de fazê-lo devido à falta de transparência da gestão Rollemberg na publicização da contabilidade governamental. Desta forma, o clima de terror criado pelo GDF levanos que a crer que não passa de um artifício para atacar os direitos trabalhistas dos professores e precarizar a educação pública do DF prejudicando, dessa forma, docentes e estudantes abrindo caminho para a terceirização da educação.
Como se não bastasse, ainda há ameaças de retrocessos na oferta da educação para o ano de 2016 como o fim da jornada ampliada; o aumento de estudantes por turma; as indefinições sobre atendimento em salas de recurso, estimulação precoce; a não construção de salas de aula e de escolas para atendimento ao crescente número de matrículas; o fechamento de turmas e de escolas que ofertam Educação de Jovens e Adultos.
Defendemos a educação como direito inalienável da pessoa humana, sobretudo da classe trabalhadora, principal público da escola pública. Repudiamos toda e qualquer ação que venha representar um retrocesso à educação pública no Distrito Federal, conquistada com a luta dos trabalhadores e das trabalhadoras.
Para Paulo Freire a Educação sozinha não transforma a sociedade e sem ela tampouco a sociedade muda e assim, concordantes, reafirmamos nosso compromisso e apoio à causa da educação pública, pois a nossa luta é por uma sociedade educadora, justa, democrática e igualitária. Por fim, estamos juntos à luta dos professores e professoras. Esta luta perpassa pela valorização e respeito à educação pública e conclamamos a toda sociedade do Distrito Federal que se unam a esta causa.

Que nenhum direito da classe trabalhadora seja usurpado!
Distrito Federal, 30 de outubro de 2015.
Assinam,
§Centro de Cultura e Desenvolvimento do Paranoá e Itapoã - CEDEP
§Central de Movimentos Populares - CMP
§Banco Comunitário do Itapoã
§Centro de Educação Paulo Freire de Ceilândia
§GTPA – Fórum de Educação de Jovens e Adultos do DF
§Serviço de Paz, Justiça e Não-Violência - SERPAJUS
§Grupo de Estudos e Pesquisa em Materialismo Histórico-Dialético e Educação - CONSCIÊNCIA - FE/UnB
§FORMANCIPA - Formação Integrada e Emancipadora de Acesso à Educação Superior
§Centro de Memória Viva - Documentação e Referência em Educação Popular, Educação de Jovens e Adultos e Movimentos Sociais do DF - CMV/DF
§Pós-Populares - Democratização do Acesso à Universidade Pública pelo Chão da Pesquisa (FE/UnB)
§Grupo de Ensino Pesquisa e Extensão em Educação Popular e Estudos Históricos, Filosóficos e Culturais - GENPEX
§ASKAP - Associação dos Skatistas do Paranoá e Itapoã
§Centro de Educação, Pesquisa, Alfabetização e Cultura de Sobradinho – CEPACS
§Casa de Paulo Freire de São Sebastião
§Grupo AruandaÊ Capoeira do Paranoá
§ Movimento por uma Ceilândia Melhor – MOPOCEM
§Centro de Alfabetização do Recanto das Emas - CAREMAS
§Associação Cultural Encantos de Itapoã e Paranoá - ACEIP
§Associação Comunitária da Expansão do Setor O - ACESO
§ Movimento de Educação e Cultura da Estrutural - MECE
§Banco Comunitário Estrutural
§Editora Abadia Catadora
§Ponto de Memória da Estrutural

domingo, 11 de janeiro de 2015

Je ne suis pas Charlie - Leonardo Boff

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

RESENHA

Por uma pedagogia da comunicação

Maria do Rosário do N. R. Alves (SEE/DF)

Pedagogia do silenciamento: a escola brasileira e o ensino de língua materna, obra de Celso Ferrarezi Jr. é resultado da longa experiência do autor na formação de professores de língua materna em cursos de Letras e de sua experiência em salas de aula da Educação Básica - da alfabetização ao Ensino Médio -, com povos indígenas, com seringueiros e ribeirinhos, em escolas urbanas e no sistema federal de universidades.
Celso Ferrarezi Jr. é licenciado em Letras Português/Inglês pela Universidade Federal de Rondônia (UNIR), mestre em Linguística (Semântica) pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), doutor em Linguística (Semântica) pela UNIR e pós-doutor também com especialidade em Semântica, pela UNICAMP. Atualmente é professor associado da Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL). Na Amazônia, fez carreira como professor a partir dos 16 anos, quando terminou o curso de magistério. 
O livro foi organizado em quatro capítulos além da introdução e da conclusão. A introdução nos apresenta um breve histórico do silenciamento na educação e discorre sobre o tipo de silêncio ao qual se refere: o silêncio que vai além do silêncio da boca, mas que afeta a pessoa no falar, no expressar ideias, na criticidade, no posicionamento diante dos fatos da vida, na autonomia, na leitura e na escrita. Para ele, é um silêncio múltiplo, escolasticamente desenvolvido, academicamente ensinado, e que deixa cicatrizes profundas nas vidas dos alunos. O autor posiciona-se contra os silêncios impostos nas escolas silenciosas, em que os professores estão preocupados em ensinar “as artes do silêncio”.
Ainda na introdução, o autor apresenta-nos a ideia de que a escola brasileira atua na contramão do barulho próprio da vida: o barulho da voz do criador, na criação e, da explosão cósmica, na evolução. Na escola, aprende-se a ter medo do barulho, que é considerado como um pecado que corrompe as hierarquias e sinaliza em direção a um anarquismo incômodo. Para ele, o barulho deve ser considerado de maneira diferente:como expressão da vida, do movimento e da vibração. Trata-se de ir contra o silêncio escolarizado, produzido em um círculo vicioso: os professores foram formados na 
pedagogia do silêncio e a reproduzem em suas salas de aula. Há uma conclamação a uma boa e barulhenta escola, onde borbulhem os pensamentos inquietos e cheios de vida.
O capítulo 1, intitulado “O silêncio dos pecadores”, traça um caminho que passa pela formação de uma pedagogia do silêncio, pelos currículos silenciosos e pela prática do silêncio nas aulas de língua materna. Esse caminho inicia-se com a história das primeiras escolas, cerca de mil anos antes de Cristo, cujo objetivo era a conversão religiosa; aborda as instituições orientais no período pré-cristão e a educação grega, iniciada pelos filósofos. Ele pontua o início do silêncio na escola ocidental, cuja origem remonta aos católicos romanos da patrística, fundadores dos mosteiros e da implantação do silêncio como virtude, situação que foi modificada com o Renascimento. No entanto, o autor afirma que as construções iluminadoras dos renascentistas não chegaram à escola brasileira, e que o silêncio continua sendo a prática nacional preponderante.
Quanto aos currículos silenciosos, para Celso Ferrarezi, os currículos adotados nas escolas ainda consideram o silêncio e o ensino de regras como as principais orientações a serem seguidas. Para chegar a esse ponto de vista, ele apresenta a análise de currículos de língua portuguesa de sete escolas dos anos iniciais em diferentes estados do Brasil. Sua pesquisa comprova que eles são “descabidamente” extensos para cada série e que o ensino de língua materna ainda é pautado pelo ensino da gramática normativa. Levanta, ainda, a discussão sobre a inutilidade da escola e a necessidade de revisão dos currículos, para mudar essa situação.
Sobre o silêncio, como prática nas aulas de língua materna, o que se discute é a prática da palavra irresponsável, a prática da não utilização da inteligência e a prática do “você não me interessa”. Nesse tópico, o autor é enfático ao afirmar que os alunos só têm a palavra para responder a perguntas inúteis do tipo “O que é um adverbio?”, que têm vergonha de errar e que, dessa forma, a escola silencia as consciências, não permitindo aos alunos pensarem, oferecendo exercícios mecânicos e repetitivos. Tudo isso sinaliza, para o aluno, que por ele não se interessam, que sua história, seus valores, seus interesses não são importantes: o que importa é o conteúdo vazio de significados.
No capítulo 2, “Uma tentativa de mudança”, apresenta-se um histórico da construção dos currículos escolares, definindo-se as competências de cada instância nos níveis federal, estadual e municipal, em relação à sua elaboração, discussão e distribuição. O autor discute a filosofia dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e esclarece que,do seu ponto de vista, eles foram uma revolução curricular que não chegou ainda à prática dos professores. São ressaltados o novo foco para o ensino de língua materna e a competência técnica com que os PCN foram construídos. 
Sobre a ausência dos PCN na prática dos professores, são abordados os percalços em sua implantação, que passam pela não compreensão de seu conteúdo. Nesse tópico do capítulo, também há uma análise do Decreto Presidencial n° 6094-24/04/2007, em que se estabeleceram as metas para a educação brasileira. Aqui, Ferrarezi refere-se à necessidade de envolvimento de todos os professores na discussão e elaboração do Projeto Político Pedagógico (PPP) das escolas, momento em que se deveria contemplar o currículo, considerando-se as especificidades de cada escola, e define as habilidades essenciais pelo ensino de língua materna nos anos iniciais do Ensino Fundamental. 
O capítulo 3, “As quatro habilidades básicas da comunicação na sala de aula”, foca, como o próprio título enuncia, as habilidades que são consideradas fundamentais para a formação do homo communicans: ler, escrever, falar, ouvir. O ouvir é considerado como uma capacidade muito mais ampla do que o simples escutar. O autor lista as habilidades que compreendem o ouvir e faz considerações sobre sua complexidade, ressaltando a demanda de tempo para seu desenvolvimento. O falar nos é apresentado como uma habilidade valorizada por todos os povos antigos e modernos e que determina poder nas sociedades. Nesse aspecto, Ferrarezi aponta a escola como agente propiciador da fala em oposição ao silêncio, mas, sobretudo, em oposição ao vazio construtivo de si mesmo e da sociedade. 
A leitura, nesse capítulo, é analisada, inicialmente como uma atividade que parece sempre sem sentido para os alunos. Quais seriam as causas dessa situação? É o que o autor responde, nesse tópico, além de elencar as habilidades de leitura que devem ser valorizadas pela escola e destacá-la como o mais eficiente meio de se romper o silêncio da mente. O escrever é apresentado como uma tecnologia que nossas escolas também não conseguem ensinar, a começar pela desconsideração das múltiplas formas de escrita alimentadas em Por uma pedagogia da comunicação nossa sociedade. São ressaltadas as habilidades de escrita que se deve desenvolver na escola e a necessidade de se eliminar as “gramatiquices” inúteis e improdutivas das aulas de língua materna, sobretudo nos anos iniciais.
“A urgência da mudança” é o título do quarto capítulo do livro, que aborda as mazelas de um ensino de língua materna que não é como deveria ser, e o reflexo disso na vida dos alunos. Aqui, o autor é bastante radical ao considerar que todas as epidemias que assolam nosso país são decorrentes da maior epidemia: a falta de educação para todos. Ele ratifica a questão da educação como urgente porque, segundo ele, já comprometeu o desenvolvimento do Brasil e comprometerá o futuro, caso não sejam tomadas as medidas necessárias para uma boa educação em todos os níveis.
Ferrarezi, nesse capítulo, polemiza ao afirmar com todas as letras que o ensino de língua materna deve ser o centro da educação nas séries iniciais, o trabalho mais importante que a escola deve fazer, em detrimento das outras disciplinas e explica o porquê dessa escolha. Para embasar sua categórica afirmação, ele apresenta e analisa vários textos produzidos por alunos entre o 1° e o 7° anos do Ensino Fundamental e corrobora sua afirmação de que esses trabalhos são cicatrizes do silenciamento promovido nas salas de aulas, conclamando as escolas brasileiras para se transformarem em agências de transformação de vidas, contra a repetição de conteúdos antigos, quinquilharias do saber.
Ao concluir o livro, o autor contrapõe à pedagogia do silenciamento a pedagogia da comunicação, para mudar o estado atual de silenciamento humano que alcançou um nível insuportável em nossas escolas. Ele propõe aos professores, com essa finalidade, cinco ideias a serem desenvolvidas em sala de aula, pois é hora de não só falar, mas agir.
Como o próprio autor afirma na introdução, esse livro, “embora mais especificamente voltado para professores de língua materna, será útil para qualquer pessoa que se preocupe com a educação brasileira, uma vez que discute os motivos, as consequências e as possibilidades de mudança de uma pedagogia do silenciamento para uma pedagogia barulhenta e libertadora” (p. 15). Eu o recomendo principalmente para os que estão ingressando na carreira do magistério e que têm a chance de mudar os caminhos da educação neste país. Apesar de, em alguns momentos, o autor ser um tanto panfletário, os temas tratados são relevantes para a formação e a reflexão de professores sobre o trabalho pedagógico desenvolvido em nossas salas de aula e que tem contribuído, sim, para a formação de uma juventude silenciosa.

FERRAREZI JR., CELSO. Pedagogia 
do Silenciamento. Parábola Editora, 
São Paulo. 120p, 2014Por uma pedagogia da comunicação
Volume 6 – Números 1/2 – Ano VI – dez/2013

(Revista de Letras da Universidade Católica de Brasília - http://portalrevistas.ucb.br/index.php/RL/article/view/5386/340)